PAULA SHARP
PHOTOGRAPHY
ARARAS SELVAGENS DO NORTÃO MATO-GROSSENSE
Um pequeno buritizal perto da cidadezinha de Colíder, Mato Grosso, esconde um universo de pássaros.
ARARAS SELVAGENS são nativas na Amazônia inteira, inclusive em Mato Grosso. No município de Colíder, a época do acasalamento para as araras coincide com a época de frutificação de duas palmeiras amazônicas – o buriti e o inajá. Múltiplas espécies de araras e ararinhas – a arara amarela (Ara ararauna), a arara-vermelha-pequena (Ara macao) e a maracanã-guaçu (Ara severus) – pousam nas palmeiras e alimentam-se de seus frutos. Buritis e inajás também fornecem refúgio e comida para vários papagaios e periquitos. Um único palmeiral de buritis ou inajás pode abrigar milhares de pássaros. Clique na primeira foto e nas setas para ver o slideshow.
Uma floresta de buritis ao por do sol. As araras gostam de nidificar em florestas localizadas nas zonas úmidas margeadas de árvores. Em abril, esta floresta de buritis, situada num brejo perto da pequena cidade de Colíder, MT, abriga milhares de pássaros. Como se mostra na imagem seguinte, um caminhante passando na estrada próxima pode ver entre as palmas as asas de araras amarelas brilhando na luz do sol poente.
Ao por do sol, araras amarelas pousam nas copas das palmeiras de buritis. 24 araras são visíveis nesta única foto do palmeiral ao anoitecer. Muitas mais araras ficam escondidas entre as folhas nas copas das árvores.
O buriti ((Mauritia flexuosa) ) ocorre em toda a Amazônia. A palmeira é comumente encontrada em grandes concentrações, formando os chamados “buritizais” em áreas alagadas ou brejosas. Geralmente parte do tronco do buriti fica imerso na água por longos períodos, sem que isso lhe cause dano. Os frutos do buriti são imprescindíveis para a fauna amazônica. Servem como fonte de alimento para uma ampla variedade de aves, dentre elas araras, papagaios, periquitos e tucanos.
Araras amarelas, também conhecidas pelos nomes arara-azul-e-amarela e arara canindé, são grandes aves, cerca de 80 centímetros de comprimento. Têm coloração azul ultramarino no dorso, e amarelo-dourado na parte inferior. Suas gargantas sao pretas, e têm olhos amarelos o azuis e uma área nua na cabeça com linhas de penas negras. As araras amarelas vivem no alto das árvores, onde são protegidas contra predadores.
O buriti é a mais alta das palmeiras brasileiras e pode alcançar até 30 metros. Cada buriti tem aproximadamente 20 folhas, que formam uma coroa no ápice do estipe. As folhas são grandes, em formato de estrela. A árvore floresce quase o ano inteiro, mas principalmente nos meses de abril a agosto.
Segundo dados da Embrapa, um buriti pode produzir cinco a sete cachos por ano, cada um destes com 400-500 frutos. Os cachos carregados de frutas são apanhados no alto da árvore. Os frutos servem de alimento para araras, que ajudam para disseminar as sementes.
A polpa do fruto do buriti possui coloração alaranjada e envolve uma semente dura e comestível. O fruto tem uma superfície revestida por escamas castanho-avermelhadas. A casca dura oferece uma proteção natural contra a maioria dos predadores.
O bico de uma arara é forte e encurvado e em forma de gancho, capaz de quebrar a casca dos frutos do buriti e das outras palmeiras. As araras usam os bicos para furar os galhos de árvores em busca de larvas de insetos e para fazer ninhos em ocos cavados nos troncos das palmeiras.
Durante o dia, as araras gostam de deslocar-se por grandes distâncias entre os locais de descanso e de alimentação. Ao alvorecer, as araras amarelas do buritizal de Colíder voam da floresta para um palmeiral de árvores inajás numa pastagem vizinha.
As araras se unem para vida toda e com frequência viajam aos pares ou em trios em que o terceiro pode ser um filhote. Este casal de araras amarelas passa a noite na floresta de buritis de Colíder; durante o dia, o casal alimenta-se dos frutos das palmeiras de inajá na pastagem próxima.
Durante a madrugada, bandos de maracanãs-guaçus também saem do buritizal de Colíder, onde elas tinham repousado durante a noite.
As maracanãs-guaçus, que parecem araras pequenas, são particularmente belas. Quando voam, suas asas azuis incandescentes e corpos verdes brilham à luz do sol, e os interiores das asas e rabo se evidenciam um avermelhado escuro.
Como as araras amarelas, as maracanãs-guaçus se unem e refugiam na floresta de buritis de Colíder durante o mês de abril. Quando não estão voando em bandos, as maracanãs-guaçus viajam em pares entre as florestas de buritis e inajás.
Um bando de papagaios verdadeiros (Amazona aestiva) emerge do buritizal de Colider na madrugada e voa para o palmeiral de inajás.
Um casal de papagaios verdadeiros chega ao palmeiral de inajás pela manhã bem cedo.
Um proprietário de pastagem perto do buritizal de Colíder deixou estes inajás nativos ficar em pé. Embora as araras amarelas não sejam uma espécie ameaçada, sua população vem declinando diante da destruição do meio ambiente. Assim, a preservação de habitats como este palmeiral de inajas é importante para a conservação das araras. Este conjunto de inajás, que contem mais do que vinte árvores, fornece abrigo e comida para incontáveis araras, maracanãs-guaçus, papagaios e periquitos.
Inajás (Maximiliana maripa) são palmeiras grandes que contem múltiplas hastes e capas que oferecem comida e proteção do sol e da chuva para as aves. Aqui, uma arara amarela pousa num inajá do palmeiral de Colíder.
Araras amarelas e maracanãs-guaçus pousam juntos nos inajás para comer seus frutos e folhas.
Muitas espécies de papagaios e periquitos – como este casal de periquitos-de-encontro-amarelo (Brotogeris chiriri) – comungam nas palmeiras inajás com as araras e maracanãs-guaçus.
Um casal de papagaios verdadeiros se acomoda numa folha dum inajá.
Durante a época de frutificação o chão fica forrado de sementes de inajás.
Uma maracanã-guaçu carrega no bico um fruto de inajá enquanto voa com seu parceiro para seu local de repouso no palmeiral de inajás.
Uma arara-vermelha-pequena chega no palmeiral de inajás de uma localização desconhecida. Passa a manhã se alimentando nos inajás e viajando entre eles e as árvores próximas. Este tipo de arara aparece com menos frequência na área do que as araras amarelas.
As araras-vermelhas-pequenas, também conhecidas como araracangas, podem medir até noventa centímetros de comprimento. Sua plumagem geral é vermelha com asas azuis e amarelas com um pouco de verde. Têm uma face branca e olhos entre brancos e amarelos. Como as araras amarelas, as araras-vermelhas-pequenas gostam de se alimentar do fruto do buriti, inajá e outras palmeiras.
A arara-vermelha-pequena pousa numa árvore perto do palmeiral de inajás de Colíder.
A arara volta para o palmeiral de inajás durante a tarde.
As araras amarelas também voam e voltam entre as palmeiras de inajá e outras árvores próximas. Passam horas relacionando-se nos inajás e fazendo acrobacias no alto dos galhos de uma árvore desfolhada perto do palmeiral.
Um casal de araras amarelas volta para o palmeiral de inajás de Colíder ao final da tarde.
A casal de araras amarelas chegando ao palmeiral de inajás.
O casal de araras amarelas pousa num inajá e fica lá até o por do sol.
Ao por do sol, as araras amarelas saem do palmeiral de inajás e voltam para a floresta de buritis.
Ao anoitecer, as maracanãs-guaçus também voltam para repousar no buritizal de Colider.
Copyright 2014 Paula Sharp